segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Amigo,leão

Em alfama tive um amigo leão,claro está não de carne e osso,nem de juba farta,o meu amigo leão era e é de pedra,ainda hoje existe,firme e resistente perdura no seu cantinho,era ele que nos refrescava depois das jogatanas que fazíamos no largo das ratas,quantas vezes a pausa no jogo se impunha para refrescar,toca a correr e galgar as escadas do beco das Barrelas,para matar a sede no nosso amigo,no largo de S.Rafael,a sede não esperava logo havia pretexto para se furar a ordem de chegada,ás tantas antes de saciarmos a sede,já  encontrava mo-nos todos molhados.Durante muitos e bons anos,o leão foi procurado pela malta para se refrescar,um destes dias impelido pelas recordações fui àquele cantinho de alfama,lá estava ele,não resisti,passei-lhe a mão pela juba e refresquei-me e continuei pela judiaria,aí a bonita fonte do poeta,não deitava gota,mas é um cantinho que fica no goto.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Profissões & Pregões

De alfama de outras eras,recordo algumas profissões e pregões,quantas vezes o silêncio das salas de aulas da escola primária foi cortado pelo homem que apregoava bem alto "meias e cuecas para senhora", ou a mulher que apregoava "quem quer fava rica",ou o funileiro que anunciava a sua passagem nas vielas gritando "funileiro e ferro velho",mas aguarela não fica completa sem lembrar,as rainhas dos pregões,as varinas. Faziam ecoar a virtude do seu peixe,competiam entre si para cativar a clientela,"o meu peixe é lindo","a minha sardinha é prata",ou já no final da venda "quem-me acaba o resto",enquanto isto o amolador tocava a sua flauta anunciando a sua passagem sendo requisitado pelas varinas para afiar as facas e tesouras,não descurando o arranjo no chapéu de chuva se a época fosse de tal,o amolador fazia passar os instrumentos de corte na roda de pedra movida pela sua perna,fazendo soltar fagulhas que eram fascínio para os miúdos,as mulheres que vendiam fruta mais pareciam vender mel pois assim diziam ser a sua fruta,à tardinha o ardina servia as frescas gritando "Capital ou Popular".

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Escada misteriosa

Quando se é miúdo,tudo é extraordinario e naquele tempo alfama,tinha muitos mistérios,muitas lendas,como por exemplo a existência de um túnel que ligava o pateo da rainha ao castelo de S.Jorge,ou os alçapões que tapam a água-das-ratas,que ainda continua a brotar e que foi motivo de autênticas romarias para a sua recolha nos anos sessenta porque granjeou fama terapêutica,ou simplesmente a "escada misteriosa",que não é mais mais do que a originalidade de um prédio existente em alfama ter dois acessos com ligação entre si,isto para a malta era algo de fabuloso e um excelente ponto de fuga quando se jogava á "apanhada", o que lhe valeu o epíteto de "escada misteriosa",se para nós não passou de um local de aventura ,para outros anos mais tarde iria revelar-se uma fonte de rendimentos,uma autêntica mina,aproveitando a ligação que as escadas permitiam entre o exterior do bairro com o interior do mesmo,muita gente foi levada na cantiga do bandido caindo no conto do vigário,esperando em vão pelo "artista" que prometia voltar já,mas que escapava para o interior do bairro,para desaparecer nas vielas do bairro.